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Mostrando postagens de abril, 2011

O casal

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Quando esfumaçada a boca esquenta, na sequência trago o líquido vermelho que inunda meus lábios secos. O doce se mistura ao amargo do meu sangue. Sweet, sweet blood . A taça vermelha até a borda, cor viva afogada em sabor, carrega um passado pisado à pés descalços, corações esmagados ao som dançante do imaginário. Cigarro rígido, vive a partir da mesma brasa que mata quem se saboreia a cada tragada. A fumaça, nuvem estática presa na boca, com inspiração sacia meu corpo e aos poucos sai em formas curvas e macias que se desfazem como pó ao vento. A cor viva ausente na taça é presença confusa e agradável na mente. Ela vazia perde a sensualidade de sua forma, suas dobras não preenchidas são como o vinho sem o espírito de Dionízio. O cigarro sem a brasa não satisfaz a carne que arde sedenta pela plenitude do fogo. Vazio e apagado. Não preenchem, não combinam, não se completam. Não dá.

Planícies - Adriano Nunes

o vazio dele o vazio dela o vácuo do umbigo do tempo a pele a pílula o efeito fatal do sono o sonho o sonho o sonho... até quando? o vagão partindo a simetria sincera do trilho a ilusão me deglutindo depois, nem isso. o poço profundo outro mundo outro escuro outro escudo a mesma máscara mesclada à vida que tarda outra diáspora o trauma o nêutron a névoa a mágica moldando a alma depois, nada.

produção em Um Esplêndido Lugar

Me deixa ser toda sua quase pura pouco nua Vem conhecer meus dilemas formigas pequenas com mil problemas Sem pré dizer deixar a carne crua cantar pra lua mãos dadas na rua Pra então me ter em noites plenas amantes em cena despidos apenas ----------------------------------------------------------------------------------- Passarinho, o que me diz? Livre leve canto Passarinho, o que me dá? Sorriso sossego santo Passarinho, o que me mostra? Longo liso tempo Passarinho, e como faz? Viva a vida vinda! ----------------------------------------------------------------------------------- Todo tempo passa aos poucos fosco senso tempo tosco Pouco paro tique estalo toco mato tiro calo pouco à toa tarde toda penso solta numa boa
cavo fundo no peito tento encontrar a palavra escondida é preciso ir além da epiderme dilacerar a carne romper nervos e veias ver transpassado o bruto coração  de Nydia Bonetti

Amoxicilina

Se tentas, menina, parecer mulher, se mostra bebê Se então, garota, quando beber não rir como criança, Ai de tua juventude! Em pouco tempo tão velha Não acelera mais por galopes do coração que  tiravam o fôlego hipnose do olhar Inflamação do corpo calor, rubor, fisgadas na barriga imã nascente de corpo com corpo em relutância se fortificava E hoje, ainda jovem me vejo multiresistente em tratamento [antibióticos dissolvidos em sopas de letrinhas]

o pó e o povo

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põe pó no povo o povo só quer pó pode puro pode pouco pode porco põe o povo no pó o pó só quer o povo pode pobre pode preto pode nobre o povo pede o pacote repete a dose até o povo aos poucos virar pó

Sakura

A flor viva em xilema se faz novo dilema abre-se  sem caminho desconhecidos percursos por mares nunca antes navegados regam alimentam e abrem o broto novo pulsando dilatada flor nova cor forma perfume textura doidos doloridos cortes essenciais inevitáveis e quando a pétala anuncia a morte iminente de uma flor nascida do mais puro acaso o luto nasce renasce aquela pétala junto com tantas outras parte por maior que seja a tempestade por mais que se regue por mais forte que seja a vontade vai se volta quem sabe se vier que reviva novo broto nova flor [de]novo xilema fluindo dilemas