O casal
Quando esfumaçada a boca esquenta, na sequência trago o líquido vermelho que inunda meus lábios secos. O doce se mistura ao amargo do meu sangue. Sweet, sweet blood . A taça vermelha até a borda, cor viva afogada em sabor, carrega um passado pisado à pés descalços, corações esmagados ao som dançante do imaginário. Cigarro rígido, vive a partir da mesma brasa que mata quem se saboreia a cada tragada. A fumaça, nuvem estática presa na boca, com inspiração sacia meu corpo e aos poucos sai em formas curvas e macias que se desfazem como pó ao vento. A cor viva ausente na taça é presença confusa e agradável na mente. Ela vazia perde a sensualidade de sua forma, suas dobras não preenchidas são como o vinho sem o espírito de Dionízio. O cigarro sem a brasa não satisfaz a carne que arde sedenta pela plenitude do fogo. Vazio e apagado. Não preenchem, não combinam, não se completam. Não dá.